Ao meu ver, a Bienal de São Paulo teve, em determinada época, um papel muito importante para nós, artistas brasileiros e também para o público que se interessava em arte. Tínhamos a oportunidade de conhecer a obra de grandes artistas, de várias tendências e de várias partes do mundo – o que antes era um privilégio só para quem podia viajar. Já pensou na alegria de quem, naquela época, chegava ao Ibirapuera e lá estava a Guernica de Picasso? Claro, não faltaria quem dissesse: “Mas isso é arte? Onde estão os aviões de Hitler bombardeando a cidade? Onde estão os bandidos de Franco assassinando as pessoas?”.

A II Bienal de São Paulo, incorporada aos festejos do IV centenário da cidade, trouxe o que havia de mais significativo na arte do século XX. Incluindo Guernica, havia 40 telas de Picasso, mostras de Klee, Mondrian, Moore, Calder e gravuras de Hayter. O prêmio de melhor artista brasileiro foi atribuído por um júri ao figurativo Di Cavalcanti e ao abstrato Volpi.

A Bienal de São Paulo foi criada por Ciccilo Matarazzo a partir do Museu de Arte Moderna de São Paulo, do qual foi fundador. Ele tinha admiração pela Bienal de Veneza e compreendeu as vantagens de desenvolver uma entidade semelhante na América do Sul, frustando as tentativas de hegemonia político-cultural norte-americana. Essa é a verdade.

Participei de uma pré e de duas Bienais, na década de 60, e não sinto desgosto por isso.

Um fato relevante, foi a acolhida calorosa por parte dos artistas, elegendo Mario Schenberg, como seu membro representante, nos júris das bienais da década de 60.

Quando foi decretado o ato AI5, ele foi preso e esteve detido durante 50 dias. Depois disso, nova prisão lhe foi decretada – mas a polícia da ditadura não mais o encontrou.

Essa era a bienal nos anos 60. Pena que hoje a Bienal de São Paulo não represente o que um dia já foi.